segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Lembranças #1

Acordo cedo com um SMS. O barulhinho estridente do meu celular me desperta com um pulo de susto. Olho para o monitor iluminado do aparelho, meus olhos ainda cegos de sono conseguem enxergar palavras aleatórias. Largo o celular no chão mesmo, fazendo um barulho que faz a minha irmã se mexer no quarto ao lado. Como por instinto eu imaginei de quem fosse a mensagem e de quem se tratava. Não, não queria te ver hoje. Hoje não. Reúni forças e peguei novamente o aparelho do chão. Li calmamente cada uma das palavras e automaticamente comecei a digitar palavras-resposta para aquela palhaçada toda. Porque diabos eu sempre combino coisas com pessoas que eu sei que não quero ver mais? Porque nunca sei dizer um simples não? Um não não é tão absurdo assim quanto parece. Eu mesmo já escutei "não" quinhentas vezes e cá estou digitando essas merdas. "Estou gripado, adoraria ir lá com você hoje. Desculpa". Cinco minutos se passam e lá está meu celular tocando. Simplesmente não quero atender. E não atendo. Uma chamada perdida. Espero que não ligue de novo. E como uma leitura de pensamentos travando uma guerra, eis que o aparelho toca novamente. Olho com ar de cansaço para o coitado do celular e finalmente pego-o do chão. Simulo a voz dolorida mais convincente que consigo e recuso o convite inventando uma história qualquer. Odeio magoar as pessoas. Mas eu esqueço que, caralho, já fui magoado diversas vezes.
O dia se passa como uma sucessão de fatos preguiçosos e eu sinto vontade, do nada, de sair. Não posso retomar meu plabno inicial. A mentira já foi inventada, ninguém acreditaria nela. Eu precisava me perder nessa cidade imensa, eu queria isso. Estava me sentindo bonito, coisa que raramente acontece. Senti que conseguiria qualquer pessoa naquela tarde. Entrei na internet. Maldita internet. Perigosa, porém excitante. Entrei em um bate papo e não demorou para começar uma conversa com alguém. Altura mediana, oriental, 31 anos, classe média. Pediu meu número. Por alguma coisa que não sei o explicar, já que nunca faço isso assim tão rápido, passei meu contato. Na mesma hora me ligou e eu disse: Você tem dez minutos para me convencer a sair com você. Embora eu soubesse que eu, com certeza, acabaria indo. Um pouco de charme sempre é bom. Escutei mil motivos. Não dei ouvido a nenhum deles, mas aceitei o convite assim mesmo. Cio. Estava no cio e eu precisava de alguma forma de afeto físico. Melhor ainda se a fonte de carinho fosse de alguém mais velho. Uma coisa meio de pai e filho. Marcamos um horário e uim local. Na frente do centro cultural vergueiro as 18:00. Cheguei vinte minutos mais cedo e fiquei lá sentado, fumando e mexendo no celular. Um carro pára na minha frente e eu logo imaginei que fosse quem eu estava esperando. Dito e feito. Entrei no carro e comecei a falar. Do nada. Não costumo falar da minha vida para estranhos, mas naquele dia eu resolvi falar. E falei. Me servi de um cigarro inglês e forte para caralho. Gostoso. Senti uma mão na minha coxa. Gostoso. Quando percebi estava beijando uma pessoa estranha, inclinado na direção do banco do motorista. O trânsito parecia parar para ver. Mas ninguém estava dando a mínima. Claro que não. Tudo foi muito rápido. Fui deixado na estação Barra funda e de lá caminhei sem rumo. Eu não queria ir para o inferno da minha casa. Tudo seria melhor do que ficar lá sozinho. Caminhei poucos metros e me vi de frente a um galpão enorme e famoso que eu não sei o nome e estava oferecendo um evento. Entrei e fiquei lá fumando e obsevando as pessoas. Sozinho. Vazio. Comprei duas camisetas e voltei para a estação. Fui para casa. Comprei um pão doce recheado de geléia de morango. Gostoso.

...

Vou dormir. Recebo outra mensagem pouco antes de deitar. "Melhorou?"

"Acho que não muito... Fiquei deitado o dia todo"

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