quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O rato morto

O cachorro corria pela sala, exibindo um rato morto pendurado pelo rabo. Uma mulher estava encostada na parede olhando com repulsa para aquilo. Em tom de reprovação fez um gesto para o cachorro entender que ele deveria sair dali com aquela coisa. O cachorro olhou com ar de piedade e largou o cadáver do animal no tapete persa que decorava a sala pequena. A mulher olhou em volta, inutilmente a procura de alguém para ajudá-la naquela situação nojenta. Sozinha como era, impossível seria tal ação. Estava tão acostumada a ser assim, que ainda se admirava quando tinha reações incondizentes com a sua solidão. Na sua geladeira havia potinhos de coisas pequenas, pedaços de bolos solitários e em embalagens individuais, frios estragados e uma caixa de leite azedo. Olhou para o telefone e pensou em digitar o número dos bombeiros e implorar para que lhe tirassem aquela criatura de sua imaculada sala. Achou que seria ridicularizada por fazer isso.

Pensou em deixar o pequeno defunto ali na sala...sozinho. Pensou até em inutilizar aquela sala e talvez jogar uns jornais em cima do pobre defunto, afim de não precisar visualizar aquela cena nojenta.

Não havia nada a ser feito. Ela não tinha amizade com vizinhos, ela não tinha ninguém. Ela só tinha a sua solidão.

Sentou numa cadeira que estava aleatória na cozinha, cobriu o rosto com as duas mãos, como se tivesse tentando esconder uma fraqueza e chorou. Chorou não pelo fato de ter um rato morto na sua sala. Mas pelo fato de ser sozinha. Não tinha nada e nem ninguém, só um rato morto sobre o tapete persa de sua sala.

Nenhum comentário:

Postar um comentário